O número de ingressantes no ensino superior voltou a ter aumento relevante, após dificuldades nos anos de auge da pandemia de covid-19, com a procura puxada pela área de Tecnologias da Comunicação e da Informação. Mas a evasão continua a ser um problema. É o que mostram os dados mais recentes do setor, presentes na 14.ª edição do Mapa do Ensino Superior do Brasil, lançado este mês pelo Instituto Semesp.
Depois de um avanço de 0,9% de 2019 para 2020, e de 3,5% de 2020 para 2021, em 2022 o aumento das matrículas totais chegou a 5,1%. O avanço foi ainda maior na rede privada (6,6%). O curso de Ciência da Computação aparece como alvo de 11,5% dos jovens vestibulandos que participaram do levantamento do Semesp, seguido dos tradicionais Administração (10,8%), Direito (3,8%) e Medicina (3,4%).
Os cursos da área da Saúde, que tiveram um novo boom com a pandemia, ainda respondem por 18% do interesse total. A área de Negócios, Administração e Direito segue liderando em número de alunos, mas os cursos de “Serviços” assumiram a liderança de maior porcentual de matrículas nas particulares (89,6%).
As matrículas nos cursos da área de Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) foram as que mais cresceram de 2021 para 2022 na rede privada (28,1%), sobretudo na modalidade a distância entre 18 e 24 anos, o que pode até indicar uma mudança de perfil, uma vez que o EAD normalmente atrai um público de idade superior.
Futuro
Os especialistas do Instituto Semesp acreditam ainda que o avanço deve ser maior em 2023 e 2024. O otimismo do setor é pela diminuição no ritmo de queda das matrículas na modalidade presencial, que despencaram no início da pandemia. Em 2022, o quadro mudou, indicando que os cursos presenciais podem voltar a crescer e conquistar novos alunos. Além disso, há a aposta de maior retenção no ensino médio, com o programa Pé-de-Meia do governo federal.
Entre os anos de 2015 e 2023, o número de alunos no 1.º ano do ensino médio caiu 9,6%. Tomando como base os três anos para a conclusão normal do ensino médio, o Instituto Semesp estima que 65,8% dos alunos que ingressaram no ensino médio em 2020 concluíram essa etapa em 2022. Esse porcentual é maior nas escolas particulares (85,8%). Na rede pública, há perda de cerca de 40% dos estudantes.
Evasão
A questão da “fuga” das aulas começa no médio e continua a esvaziar salas nas faculdades. O estudo divulgado neste ano acompanhou a trajetória dos estudantes de 2018 a 2022, e identificou na rede privada uma taxa de desistência de 60,8% (nos cursos EAD chegou a 64,9%) -, isso com todas as ressalvas do período pandêmico. Quanto maior o porte das instituições, maior a taxa de desistência acumulada. No total, 65,2% dos alunos matriculados nas maiores instituições desistem dos cursos antes de concluí-los.
Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, o principal problema é financiamento. “Hoje, praticamente, não há política de acesso, o Fies é muito pequeno, são em torno de 100 mil vagas. E estamos falando em mais de 2, 3 milhões de jovens que precisam ingressar no ensino superior. Entre aqueles que ingressam, 90% têm uma renda familiar, uma renda per capita, de até 1,5 salário mínimo. Eles têm muita dificuldade de pagar a mensalidade, então a primeira coisa que teria de ter é um financiamento ou mais política de acesso, como o ProUni”, diz (saiba mais na entrevista ao lado).
Concentração de Matrículas
Por regiões: Os Estados de São Paulo, Minas e Rio apresentam, juntos, 41,7% do total de alunos matriculados no ensino superior do País. Santa Catarina é o que tem maior porcentual de alunos na rede particular (86,4%), enquanto no Rio Grande do Norte é de 56,8% (o único Estado a ter menos de 60% das matrículas na rede privada).
Por faixa etária: Os cursos presenciais ainda têm maioria de estudantes de até 24 anos (acima de 60% tanto na rede privada quanto na pública). Já os cursos EAD, mesmo com um aumento de 488% de 2012 a 2022 no número de alunos na faixa etária de até 24 anos (o maior aumento no período foi verificado entre os maiores de 60 anos, de 577%), ainda não representam um fator de inclusão de jovens no ensino superior, pouco contribuindo para o aumento da taxa de escolarização líquida. Só 26% e 15%, nas redes privada e pública, respectivamente, estão no ensino a distância.